Morador de Passagem de Mariana, Daniel é conhecido por enfrentar o sobrenatural
Por: João B. N. Gonçalves e Hynara Versiani
Daniel Afonso Pinto, ou, como é mais conhecido, Daniel Leão, é um caçador de assombrações que se tornou uma figura folclórica do distrito de Passagem de Mariana. Aos 59 anos, Leão vive em um rancho na altura do quilômetro 108 da Rodovia dos Inconfidentes, cercado pela paz do campo, por carros decorados e uma coleção impressionante de itens ligados ao sobrenatural.
Leão nasceu em São Pedro dos Ferros e foi criado em Ouro Preto, mas foi em Passagem de Mariana que sua história se entrelaçou definitivamente com as lendas locais. Entre 2010 e 2015, quando a história do Caboclo D’Água tomou conta da comunidade, Daniel ganhou notoriedade ao se oferecer para caçar a entidade. Seu envolvimento com a lenda foi tão significativo que o levou a participar de programas de televisão, como o “Xuxa Meneghel” na TV Record.
O caçador de assombrações conta sobre a sua relação com a lenda do Caboclo D’Água e como foi convocado para caçá-lo. “Eu trabalhava como vigilante na universidade e prestava serviço para o reitor Vicente Bispo. Então, junto do pessoal da Associação de Caçadores, me chamaram para caçar o Caboclo D’Água. Foi uma experiência muito boa. Sempre que precisavam de mim, me procuravam”, relata.
A relação de Daniel Leão com as lendas, porém, não começou com o Caboclo D’Água, ele conta ter apreço pelo sobrenatural desde a adolescência. Falar da origem do seu apreço pelo sobrenatural: “Aos 13 anos, eu comecei a gostar de cemitérios e coisas ‘malignas’. A minha vida foi essa desde novo, gosto muito de cemitérios e minha mãe sempre falava comigo, ‘um dia, vai aparecer um trem pro cê, cê vai vê. Cê nunca mais vai caçar cemitério’”.
Leão explica que gosta dos cemitérios e caixões pois representam igualdade e que não o ser humano não leva nada para a vida após a morte: “Por que o caixão? Porque as pessoas não entendem, querem ser melhores do que os outros. Por isso que eu ando com o caixão em cima do carro, para o povo ver que nós não somos nada. Eu posso falar agora que esse rancho aqui é meu, mas não é. Depois que eu for, acabou”.
Daniel relata encontros com o inexplicável desde a adolescência, como quando, no Jardim Botânico de Ouro Preto, avistou uma figura enorme que desapareceu em uma moita de bambu. Ou ainda quando, no cemitério de São Francisco de Assis, presenciou sombras que pareciam abraçar as estátuas de Aleijadinho.
Esses episódios marcaram profundamente sua vida, assim como as inúmeras outras experiências sobrenaturais que ele vivenciou ao longo dos anos. Para Daniel, os mortos não são motivo de medo. “Eu tenho que ter medo de quem é vivo. Eu não vou ter medo de morto”, afirma, com a convicção de quem já dormiu no necrotério da Santa Casa de Ouro Preto ao lado de um cadáver, buscando abrigo da chuva.
Além de sua personalidade excêntrica, Leão se destaca pelo estilo de vida único. Com roupas pretas adornadas com cravos, caveiras, além das muitas tatuagens, ele chama a atenção por onde passa, seja com suas vestimentas ou com seu carro, decorado com caixões, chifres e crânios. Para ele, esses símbolos representam humildade e igualdade.
Para Daniel, a caveira é o maior símbolo de que todos são iguais. “Se você colocar o crânio de um branco, um negro, um rico um probre do lado um do outro, vai ver que são todos iguais. A caveira não tem nada de morte. Ela significa que nós somos todos iguais”, explica. Sua filosofia de vida, que mistura rebeldia e uma profunda crença na igualdade humana, o faz ser criticado por muitos, especialmente por aqueles que, em sua visão, não têm a coragem de ser diferentes.
Daniel, contudo, não se abala pelas críticas. Ele encontra força em seu amor pela vida e na certeza de que está apenas de “passagem” por este mundo. A relação conturbada com a família, especialmente com seus filhos, que ele acredita terem vergonha de seu estilo de vida, não o desanima. “Se eles têm vergonha de mim, muitas outras pessoas não têm, porque eu tenho muitos amigos”, reflete.
Um dos grandes suportes de Daniel é sua namorada, Dircilene Cristina, de 49 anos. Eles se conheceram há 11 meses, quando ele a adicionou no Facebook. Mesmo com ressalvas iniciais sobre o estilo de vida de Leão, Dircilene logo percebeu que ele era uma pessoa especial. “Ele é um homem carinhoso, amoroso, compreensivo”, diz. Para ela, as tatuagens e o gosto pelo rock não são nada comparados ao coração bondoso que Daniel possui.
Passagem, Mariana e Ouro Preto são locais com muitas lendas e histórias para contar, e Daniel Leão pretende explorá-las. O caçador diz já está planejando novas aventuras em busca de experiências sobrenaturais, incluindo uma possível volta ao Jardim Botânico de Ouro Preto, uma visita ao Pico do Itacolomi, além de querer conhecer a Noiva de Furquim e dar um passeio de carro. “Eu quero mais aventura”, afirma, com a determinação de quem vê no mistério e no desconhecido um convite irrecusável.
Publicado em: 26/08/24